13 maio 2015

Vídeo: Leitura dos livros "O enterro do anão" do Chico Anysio e "Formas de voltar para casa do Alejandro Zambra


Fiz um vídeo sobre as minhas impressões das minhas últimas leituras


Falei sobre 

Título: O enterro do anão
Autor: Chico Anysio
EditoraJose Olympio
Páginas: 140



Falei também sobre

Título: Formas de voltar para casa 
Autor: Alejandro Zambra
EditoraCosac Naify
Páginas: 160


Gostei de várias coisas no livro, mas teve outras que também não gostei, como falo no livro, mas ele tem diversas frases que achei tocantes. Recomendo a leitura e compartilho aqui as frase que mais gostei:

PARA MIM era difícil entender que alguém morasse sozinho. Pensava que estar sozinho era uma espécie de castigo ou de doença

Pensei: meus pais têm cara de quê? Mas nossos pais nunca têm cara realmente. Nunca aprendemos a olhá-los bem

Pelas tardes, resignado à solidão, eu saía, como se diz, para me cansar: caminhava ensaiando trajetos cada vez mais longos

Cada casa era uma espécie de fortaleza em miniatura, um reduto inexpugnável

Nunca tinha estado antes numa casa onde houvesse dois banheiros. Minha ideia da riqueza era justamente essa: imaginava que os milionários tinham casas com três banheiros, com cinco banheiros

E eu sorri com uma satisfação na qual também respiravam o medo e o desejo

Não deveríamos odiar a pessoa que nos ensinou, bem ou mal, a ler. Mas eu a odiava, ou melhor, odiava o fato de ela me odiar.

Só notei que falavam pouco. Não era uma conversa fluente. Era o tipo de conversa que se dá entre gente que se conhece muito ou muito pouco. Gente que está acostumada a conviver ou que não se conhece.

Absurdamente camuflado com um boné vermelho

É que eu prefiro escrever a já ter escrito

Falávamos, ainda na cama, ao meio-dia, sobre anedotas de infância, como fazem os amantes que querem saber tudo, que buscam minuciosamente na memória histórias antigas para poder permutá-las, para que o outro também procure: para encontrar-se na ilusão de domínio, de entrega

Nós, crianças, entendíamos subitamente que não éramos tão importantes. Que havia coisas insondáveis que não podíamos saber nem compreender.

Enquanto os adultos matavam ou eram mortos, nós fazíamos desenhos num canto. Enquanto o país se fazia em pedaços, nós aprendíamos a falar, a andar, a dobrar os guardanapos em forma de barcos, de aviões. Enquanto o romance acontecia, nós brincávamos de esconder, de desaparecer

Tenho certeza de que aqueles professores não queriam nos entusiasmar, e sim nos desiludir, nos afastar para sempre dos livros

É impressionante como o rosto de uma pessoa amada – o rosto de alguém com quem já vivemos, a quem julgamos conhecer, talvez o único rosto que seríamos capazes de descrever, que contemplamos durante anos, desde uma distância mínima – é bonito, e de certo modo, é terrível saber que até esse rosto pode liberar de repente, inesperadamente, gestos novos. Gestos que talvez nunca voltemos a ver

E decidimos que qualquer frase era melhor que o silêncio.

Abusei de algumas lembranças, saqueei a memória, e também, de certo modo, inventei demais. Estou de novo em branco, como uma caricatura do escritor que contempla impotente a tela do computador

Ler é cobrir a cara. E escrever é mostrá-la

há coisas sobre as quais não se pode fazer piada

Mas era difícil ser isso: nem bom nem mau. Me parecia que isso, no fundo, era ser mau

você não pode dirigir nesse estado, acrescentou, e lembrei-a do que ela sempre esquece: que não tenho carro. Ah, disse ela, é verdade, mais um motivo para você não dirigir,

Ao escrever nos comportamos como filhos únicos. Como se sempre tivéssemos sido sozinhos. Às vezes odeio esta história, este ofício do qual já não posso sair.

Por um segundo, sem saber por que, me senti imensamente sozinho.

Ela me olhou demoradamente. Eu me deixei olhar. É estranhíssima essa sensação. A de esperar ser reconhecido

Em Vermont não me dá vontade de fumar, mas chego no Chile e fumo como uma louca, diz Claudia. É como se o Chile tivesse ficado incompreensível ou intolerável sem fumar.

Queria dizer, como nos romances: Eu me chamo Claudia, tenho trinta e três anos e esta é a minha história. E começar a contá-la, por fim, como se não doesse.

Achou que sua irmã tinha a cara de alguém que tinha sofrido não um dia ou uma semana, mas a vida toda

chegou o tempo em que não importam os filmes nem os romances e sim o momento em que os vimos, os lemos: onde estávamos, o que fazíamos, quem éramos então

E assim ficou, como um milagre ligeiro, intranscendente: baixar a febre de uma menina, nada mais, naquela tarde em que o viram com vida pela última vez – e tampouco o viram morto, porque seu corpo nunca apareceu.

Eu tinha passado a tarde junto a um grupo de companheiros de curso trocando relatos familiares nos quais a morte aparecia com insistência opressiva. De todos os presentes eu era o único que provinha de uma família sem mortos

Mas na minha família não havia mortos nem havia livros.

não queria ou não me atrevia a contar sua história. Não era minha. Sabia pouco, mas pelo menos sabia isto: que ninguém fala pelos outros.

Que, mesmo que queiramos contar histórias alheias, terminamos sempre contando nossa própria história.

Eu me lembro disso, era bom vê-lo de repente confessar-se fraco, vulnerável.

Ou é amor, mas amor à lembrança. O que nos une é o desejo de recuperar as cenas dos personagens secundários. Cenas razoavelmente descartadas, desnecessárias, que no entanto colecionamos sem cessar.

Para isso servem esses álbuns, penso: para nos fazer acreditar que fomos felizes quando crianças

Ao não participar, apoiavam a ditadura

Imagino-a lendo, agora, naquela sua casa para a qual nunca me convidou. Naquela cama que não conheço. Minha cama também é dela, nós a escolhemos juntos. E os lençóis, as mantas, o colchão. Eu disse isso antes que ela saísse, mas não esperava sua resposta: para que isto funcione, disse ela, às vezes você deve pensar que acabamos de nos conhecer. Que nunca antes compartilhamos nada. Me impressionou a moderação um pouco forçada de sua voz. Me falou como se fala a um homem que reclama injustamente na fila do supermercado. Todos temos pressa, senhor. Seja paciente, espere sua vez. Espero minha vez, então, sentimental, civilizadamente. • • • Aos vinte anos, quando tinha acabado de sair de casa, trabalhei por um tempo contando automóveis. Era um emprego simples e mal pago, mas de alguma forma eu gostava de ficar na esquina designada e anotar na planilha a quantidade de carros, caminhonetes e ônibus que passavam a cada hora. Eu gostava, sobretudo, de cumprir o turno da noite, embora às vezes me batesse o sono e com certeza a imagem fosse[…]

Além dessas várias frases, o autor cita vários livros, autores e textos que dá vontade de ler no futuro:
  • O anel dos Löwensköld, de Selma Lagerlöf
  •  Alsino, de Pedro Prado
  • Miguel Strogoff, de Julio Verne
  • El último grumete de la Baquedano
  • El revés del alma, Carla Guelfenbein
  • Francisco Coloane
  • Fermina Márquez
  • Valéry Larbaud
  • Isabel Allende
  • Hernán Rivera Letelier
  • Marcela Serrano
  • John Grisham
  • Barbara Wood
  • Carla Guelfenbein
  •  Pablo Simonetti
  • Em louvor da sombra, o ensaio de Tanizaki

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